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21 de dezembro de 2007

UM EDUCADOR BRASILEIRO


Idealizador de uma pedagogia que alcançou o reconhecimento mundial,

Paulo Freire morre aos 75 anos

Com fortes dores no peito, o educador Paulo Freire foi internado na manhã de primeiro de maio no Hospital Albert Einstein em São Paulo. Os exames revelaram que em uma das coronárias havia várias obstruções. No hospital, ele sofreu dois infartos. Um deles, na madrugada do dia 2 de maio, foi fulminante. Paulo Freire morreu aos 75 anos. Autor de mais de 40 livros, traduzidos em 28 idiomas. Cidadão honorário de nove cidades brasileiras. Condecorado 24 vezes com medalhas, comendas e prêmios de vários países. Doutor honoris causa em 28 universidades. Convidado oficial de 54 países dos cinco continentes. Homenageado com uma estátua em Estocolmo, capital da Suécia, e (como faz questão de registrar sua segunda mulher, Ana Maria Araújo Freire) nome de uma rua em Itabuna no sul da Bahia... Paulo Freire foi o educador brasileiro mais conhecido, respeitado e festejado em todo o mundo.


Educação não é neutra

Por mais de 50 anos, Freire produziu centenas de textos, reflexões, palestras, debates e depoimentos sobre a educação. Mas a obra que o tornou mundialmente conhecido foi a Pedagogia do Oprimido, escrita em 1968, quando o autor estava exilado no Chile (veja cronologia abaixo). Nesse livro, Paulo Freire expõe de maneira sistemática a essência de seu pensamento pedagógico. Para ele o processo educativo nunca seria politicamente neutro, mas sim uma ação cultural que resultaria numa relação de domínio ou de liberdade entre os seres humanos. Certo de que o Brasil era dividido em classes com interesses vitais antagônicos, Freire identificava aqui a existência de uma educação voltada para a dominação. Nela, a seu ver, o processo educativo seria rígido, autoritário e avesso ao diálogo com os alunos. Produziria professores empenhados em ter alunos dóceis e passivos e em dar aulas formais e distantes da realidade dos estudantes.

Pedagogia flexível

O que essa pedagogia da dominação tentaria impingir, escrevia Freire, seriam os interesses dos latifundiários e industriais, a burguesia, no jargão da Sociologia. Do outro lado, estariam os dominados: operários, camponeses, assalariados. A eles, a pedagogia da libertação poderia dar conhecimentos e suscitar reflexões que lhes possibilitassem tomar consciência de serem explorados e de que poderiam mudar tal situação. Necessariamente essa pedagogia teria de ser flexível, participativa e incentivar ao máximo o diálogo entre mestres e alunos. A tal proposta, Paulo Freire adicionava uma espécie de método de trabalho (veja ao lado) que alcançou sucesso internacional. De 1989 a 1991, envolveu-se com a política formal, ocupando a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo a convite da prefeita Luiza Erundina, do Partido dos Trabalhadores (PT).


A TRAJETÓRIA

Dos anos 50 aos 70. os intelectuais se deixaram arrebatar pela certeza de que as injustiças só seriam superadas se o povo chegasse ao poder. O embate de idéias culminou com o golpe militar de 1964. Acompanhe as datas mais significativas nesse, e em outros períodos, da vida do educador.

O MÉTODO FREIRE

Reconhecido e aplicado nos cinco continentes, o "método Paulo Freire" é uma proposta em que pedagogia e política estão entranhadas. Junto com o ensino das letras, sílabas e palavras, dizia Freire, os alunos deveriam ser incentivados a entender seu papel na sociedade. Por mais humilde que fosse, todo ser humano seria um "fazedor de cultura", quer dizer, teria um repertório cultural rico como o de qualquer outra pessoa de formação mais acabada. O processo de alfabetização propriamente dito deveria ser iniciado com palavras conhecidas pelos alunos. Seriam as "palavras geradoras". O exemplo clássico é tirado do esforço de alfabetização feito com os operários que construíam Brasília, nos anos 60. Escrevia-se uma palavra geradora conhecida por eles:

TIJOLO

Em seguida, a mesma palavra era grafada com suas sílabas separadas:

TI-JO-LO

No passo seguinte, eram apresentadas as "famílias fonêmicas" das três sílabas:

TA - TE - TI - TO - TU

JA - JE - JI - JO - JU

LA - LE - LI - LO - LU

A sala era, então, convidada a formar palavras com as novas sílabas. O método continuava com a apresentação das vogais e de palavras com um grau maior de dificuldade, por exemplo as com dígrafos - lh, nh, ss, rr... - como TELHADO ou MASSA.

Fonte: Nova Escola

2 comentários:

betty mello disse...

Linda postagem, tb sou fâ do Paulo Freire.Quero aproveitar para desejar-lhe um lindo Natal, e um ótimo 2008 junto aos seus queridos. Beijinhos carinhosos, Betty

Preta disse...

Querida Michele, quero lhe parabenizar pela postagem "Um Educador Brasileiro". Não sou do curso de pedagogia, curso Letras, mas me interesso muito por estas leituras e por escritores, como Paulo Freire. Obrigada por nos possibilita momentos de conhecimento acerca de tão honrado educador.